segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O último sopro da história – o fim do Casarão dos Leites


O velho casarão dos Leites, aquele que abrigou outrora a marquesa de Sorocaba e por muitas vezes foi o local dos encontros espúrios de Pedro I com a marquesa de Santos – fofocas de época.

É muito bom saber que o velho casarão com dezenas de cômodos que chegou a fabricar, vejam só, até cerveja. Enfim teve um fim. Em julho passado estive no bairro dos Leites para conhecer a futura escola municipal. Vejam só o poder público esteve ali recentemente e não viu o último soprar da história do casarão. Em fim pôs-se fim. O último rescaldo de uma parte da última parede veio literalmente abaixo. Em fim pôs-se fim.  Um dos mais importantes símbolos arquitetônicos de nosso município deixou de existir. Agora, vejam só. Só em fotos. Em memórias. Em fim pôs-se fim.

Mas o grande criminoso desse patrimônio histórico não foi o Iphan, Condephaat ou as autoridades locais. O grande meliante do patrimônio histórico fui eu. Cometi um crime hediondo. Entrei na propriedade onde se localizava o casarão e subtrai um pedaço da taipa de pilão da última parede do casarão. Está comigo esse pedaço da história. Mas prometo me redimir desse crime, doando esse singelo pedaço da história de Piedade ao Museu Histórico Piedadense ou ao Centro de Memória Vicente Garcia, mas antes devo entregá-lo ao Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico de Piedade, este sim sempre atuante em nosso município.

É uma pena que o casarão dos Leites teve um fim tão melancólico, vítima de um criminoso que roubou parte da história da cidade e agora quer se redimir. Desculpe-me pelo crime. Foi ato cleptomaníaco. Mas, enfim pôs-se fim.

Foto clássica do casarão dos Leites

Último pedaço da taipa de pilão do casarão dos Leites
Foto: julho - 2011



                                    

domingo, 6 de janeiro de 2013

Saudade daquilo que nunca tivemos

O historiador Antonio Leite Neto, no anterior, mas especialmente, em seu último livro sobre a história de Piedade relata o empenho que as autoridades locais até meados do século XX tiveram em trazer para a nossa cidade uma linha de trem, especialmente quando o ramal ferroviário de Votorantim estendeu-se até a Santa Helena, poucos quilômetros das terras piedadenses, mas a linha férrea nunca chegou e dentro do imaginário coletivo da cidade soa como frustação.
Sempre, desde a infância gostei muito de trem, lembro-me certa vez em viagem ao Paraná encantei-me com a passagem de um, de lá pra cá, curto muito descolar-me e viajar sobre trilhos, sonhei algumas vezes que havia uma linha de trem na marginal do ribeirão dos Cotianos o qual avistava da minha casa.
O transporte sobre trilhos é inegavelmente uma das mais interessantes e efetivas formas de transporte público do planeta, cito, por exemplo, a experiência do metrô do Cariri no Ceará, o sistema total possui 9 estações e uma linha de 13,6 km de extensão e atende àquela região metropolitana da região.
Não há necessidade argumentativa em defender o transporte sobre trilhos, penso que a interligação do transporte público e também de mercadorias entre Piedade – Votorantim – Sorocaba e demais cidades da futura e almejada região metropolitana de Sorocaba deva ser feita sobre trilhos, pois, vale lembrar, que o transporte público entre nossa cidade e a Terra Rasgada sendo muito educado, é bem ruim.
Hoje da minha janela avisto um trem que passa sobre os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana (a mesmo que vai até Votorantim), sucateada como a maioria, passa apenas com minério. Quando percebo sua chegada, corro para vê-lo. A plasticidade do trem cortando os morros é uma das paisagens mais bonitas que já vi. Mas toda vez que o vejo, lembro historicamente da opção do Brasil pelo transporte rodoviário, do processo de sucateamento chegando até a privatização da malha ferroviária. Mas, lembro mesmo é do sonho...
Peço licença a Alberto Caieiro (pseudônimo de Fernando Pessoa) para justificar uma saudade daquilo que nunca tivemos:

O Trem que avisto hoje pela minha janela é mais belo do que o trem que passa pela marginal do ribeirão dos Cotianos,
Mas o Trem que avisto hoje não é mais belo que o trem que passa pela marginal do ribeirão dos Cotianos
Porque o Trem que avisto hoje não é o trem que passa pela marginal do ribeirão dos Cotianos.

Se há uma luz no fim do túnel para minimizar as mazelas do transporte público do Brasil, especialmente de Piedade, que essa luz seja o trem.

Olá,

A intenção desse espaço é refletir sobre a história,  a contemporaneidade e o futuro de nossa querida Piedade. 
As reflexões aqui postas não se exaure, mas parte de Piedade, a escolha deste lugar apaixonante para as futuras reflexões, vem por ser minha ou nossa terra natal, pela qual a saudade estimula-me diuturnamente a querer uma cidade. Simples assim, sem adjetivos. Uma cidade, no sentido estrito da palavra. Local onde vive o cidadão.
Periodicamente, postarei elucubrações sobre nossa cidade que por falta de vocabulário chamarei-os de ensaios, sem pretensões acadêmicas, governamentais ou qualquer outra pretensão.
Muitos piedadenses, por sua trajetória de vida, precisaram sair das terras de Vicente Garcia em busca de seus horizontes, sou mais deste êxodo, mas acho que aprendi que a distância é algo relativo.

Essa casa situava-se na rua Capitão Moraes, mais ou menos em frente ao restaurante  Yumeji.
Foto do início do séc. XXI
Até...