domingo, 6 de janeiro de 2013

Saudade daquilo que nunca tivemos

O historiador Antonio Leite Neto, no anterior, mas especialmente, em seu último livro sobre a história de Piedade relata o empenho que as autoridades locais até meados do século XX tiveram em trazer para a nossa cidade uma linha de trem, especialmente quando o ramal ferroviário de Votorantim estendeu-se até a Santa Helena, poucos quilômetros das terras piedadenses, mas a linha férrea nunca chegou e dentro do imaginário coletivo da cidade soa como frustação.
Sempre, desde a infância gostei muito de trem, lembro-me certa vez em viagem ao Paraná encantei-me com a passagem de um, de lá pra cá, curto muito descolar-me e viajar sobre trilhos, sonhei algumas vezes que havia uma linha de trem na marginal do ribeirão dos Cotianos o qual avistava da minha casa.
O transporte sobre trilhos é inegavelmente uma das mais interessantes e efetivas formas de transporte público do planeta, cito, por exemplo, a experiência do metrô do Cariri no Ceará, o sistema total possui 9 estações e uma linha de 13,6 km de extensão e atende àquela região metropolitana da região.
Não há necessidade argumentativa em defender o transporte sobre trilhos, penso que a interligação do transporte público e também de mercadorias entre Piedade – Votorantim – Sorocaba e demais cidades da futura e almejada região metropolitana de Sorocaba deva ser feita sobre trilhos, pois, vale lembrar, que o transporte público entre nossa cidade e a Terra Rasgada sendo muito educado, é bem ruim.
Hoje da minha janela avisto um trem que passa sobre os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana (a mesmo que vai até Votorantim), sucateada como a maioria, passa apenas com minério. Quando percebo sua chegada, corro para vê-lo. A plasticidade do trem cortando os morros é uma das paisagens mais bonitas que já vi. Mas toda vez que o vejo, lembro historicamente da opção do Brasil pelo transporte rodoviário, do processo de sucateamento chegando até a privatização da malha ferroviária. Mas, lembro mesmo é do sonho...
Peço licença a Alberto Caieiro (pseudônimo de Fernando Pessoa) para justificar uma saudade daquilo que nunca tivemos:

O Trem que avisto hoje pela minha janela é mais belo do que o trem que passa pela marginal do ribeirão dos Cotianos,
Mas o Trem que avisto hoje não é mais belo que o trem que passa pela marginal do ribeirão dos Cotianos
Porque o Trem que avisto hoje não é o trem que passa pela marginal do ribeirão dos Cotianos.

Se há uma luz no fim do túnel para minimizar as mazelas do transporte público do Brasil, especialmente de Piedade, que essa luz seja o trem.

Um comentário:

  1. 1. O Guardador de Rebanhos
    XX

    O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

    O Tejo tem grandes navios
    E navega nele ainda,
    Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
    A memória das naus.

    O Tejo desce de Espanha
    E o Tejo entra no mar em Portugal.
    Toda a gente sabe isso.
    Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
    E para onde ele vai
    E donde ele vem.
    E por isso, porque pertence a menos gente,
    É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

    Pelo Tejo vai-se para o mundo.
    Para além do Tejo há a América
    E a fortuna daqueles que a encontram.
    Ninguém nunca pensou no que há para além
    Do rio da minha aldeia.

    O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
    Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

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